Transição de uma economia linear para uma economia circular: um caminho possível? Pesquisadores do GEALOGS discutem o tema no ADM 2020

 Muito tem sido discutido, principalmente nos últimos anos, sobre a transição de uma economia linear para uma economia circular. 

Mas o que é efetivamente necessário para que isso aconteça? 

O que podemos fazer para acelerar essa transição? 

Uma coisa é evidente, esse movimento de transição em direção à economia circular exigirá mudanças de comportamento, mudanças na cultura organizacional, mudanças nos modelos de negócios. Essas mudanças envolvem todos os atores que fazem parte do contexto, como indústrias, comerciantes, consumidores/cidadãos/usuários, governos, legisladores, entre outros de vários segmentos e nos âmbitos público e privado. 

Para esta transição é necessário fazer esforços em nível macro (cidades, províncias, regiões ou países), nível meso (simbiose industrial, eco-parques industriais) e, nível micro (organizações, produtos, consumidores). Em relação ao nível macro, envolve mudanças de política em nível nacional, regional e municipal.

Mas e o que é a tão falada economia circular e qual a diferença para o atual sistema de produção e consumo linear?


A economia circular prevê que produtos e materiais sejam mantidos em circulação pelo maior tempo possível; também prevê o aumento do uso de resíduos no mesmo ou em outros processos produtivos e/ou de negócios, a redução no uso de recursos brutos ou primários (energia, água, matérias-primas); e quando um produto chega ao fim de sua vida, prevê que ele seja reutilizado ou reaproveitado para criar mais valor na economia com menor extração de recursos naturais. É um sistema do berço ao berço, fazendo o resíduo virar alimento para outro produto ou processo. Já na economia linear, o sistema é do berço ao túmulo, se extraem recursos, que são tranformados e depois descartados, sem considerar a sua finitude e os impactos gerados. 

Sem dúvida, um dos principais nomes quando se fala em Economia Circular é a Ellen MacArthur Foundation (EMF), que é uma das principais lobistas em favor dessa transição, principalmente no contexto europeu. Nesse sentido, a EMF gera muito conteúdo e fomenta diversas ações para essa transição. A figura abaixo nos mostra que há basicamente dois fluxos que devem ser pensados para a economia circular, os ciclos biológicos e os ciclos técnicos. 


É possível perceber que os ciclos biológicos abrangem a produção primária na agricultura, na pecuária, na mineração e em outros segmentos. Essa produção primária, por sua vez, gera resíduos líquidos, sólidos, gasosos que podem ser reaproveitados em outros processos. Como por exemplo, os detritos gerados com a produção de suínos, bovinos e aves que podem ser utilizados para a produção de biogás, ou adubos; os resíduos de casca de arroz que são usados na produção de cimento e também cosméticos, entre outros. 
E os ciclos técnicos são aquelas atividades envolvidas para possibilitar a revalorização dos resíduos a fim de que sejam transformados em matérias-primas novamente e inseridos em ciclos produtivos e negócios, como é o caso da logística reversa,  reciclagem, recondicionamento, remanufatura, compostagem, reúso, redistribuição. Essas atividades iniciam a partir do momento em que os resíduos são gerados. 

Ou seja a LOGÍSTICA REVERSA é sim necessária em uma economia circular, visto que os resíduos gerados ao fim de processos produtivos e de negócios e os em posse do consumidor, precisam ser reintroduzidos novamente como matérias primas, é justamente ela a responsável por coletar esses resíduos, triar, estocar, armazenar, transportar e destinar para a alternativa mais adequada (reúso, recondicionamento, remanufatura, reciclagem, compostagem, destinação final, entre outras). 

Resíduos? mas a economia circular não prevê resíduo zero??? 

Vamos esclarecer os conceitos: 
RESÍDUOS são aqueles materiais, bens ou sobras do processo produtivo que não têm mais utilidade para o primeiro usuário, mas podem sim ser reutilizados, reciclados, recondicionados e revalorizados...

Não são, definitivamente, lixo!


Fonte: Pixabay (atribuição não requerida)

REJEITOS são aqueles materiais que não possuem mais possibilidades de revalorização, e esses sim, são tidos como lixo, e devem ser descartados em aterros sanitários ou até incinerados. 

A Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS (Lei 12.305/10) também deixa clara essa diferença!
Assim, a conclusão é: A ecoonomia circular prevê sim a redução e eliminação de REJEITOS, por meio de um design mais eficiente e sustentável. O RESÍDUO, por outro lado, é visto como alimento para um novo produto, ou para um novo processo. Entenderam?

Mas então, por que ainda não estamos mais avançados nessa transição para a economia circular?

Simplesmente porque, além de ser um movimento que requer mudanças como já citamos previamente, encontramos algumas barreiras (obstáculos) pelo caminho. 
Essas barreiras podem ser:
Culturais, Financeiras/Econômicas, Legais/Regulatórias, Técnicas, Tecnológicas, Conhecimento, entre outras. 
Dessa forma, é importante entender o contexto e essas barreiras para que possamos potencializar os impactos positivos em termos econômicos, ambientais e sociais. 

Quer saber mais sobre esse tema?

Assista a conversa com a participação da Profa. Patricia Guarnieri (UnB), Prof. Jorge Alfredo Cerqueira Streig (UnB) e Prof. Juvancir da Silva (UEPG) que foi realizada em 21-10 no Congresso ADM 2020. O vídeo está disponível no Youtube, para acessar CLIQUE AQUI.


 
Por: Patricia Guarnieri para o Blog Logística Reversa e Sustentabilidade

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